Sempre mais do mesmo
Autor: Mafalda ~ 8 de fevereiro de 2011. Categorias: Sofá da Mona.
Essa coluna é uma reflexão sobre uma situação específica ocorrida no Big Brother Brasil atual (11ª edição). Se você é do tipo de que torce o nariz para BBB, fique tranqüilo(a) . Não é propaganda, nem apologia ao programa. Se ama BBB, fique calmo(a), não engrosso a campanha equivocada que confunde hábito de leitura com o que você assiste na TV. O assunto é sempre mais do mesmo nesse país: o machismo.
Resumo da ópera: Maria “ficou” com Maurício. Os ficantes não pareciam muito apaixonados, especialmente ele. Durou duas semanas, até o cara ser eliminado num paredão. Em sua saída da casa, nenhuma atenção especial dada à Maria. Os abraços apaixonados, entre lágrimas e juras de amor, foram todos com o amigo Diogo (um dos homens mais chatos que passaram pelo programa, aliás). Maurício sempre deixou claro seu envolvimento mal resolvido com uma ex-namorada do lado de fora e nunca falou em namoro com Maria, apenas a convidou para assistir a um show de sua banda. Ponto. Fim.
Maurício saiu, sambou daqui e dali, ouviu de tudo, viu vídeos de strip de Maria na internet, ouviu hipóteses sobre a fonte de renda da moça e foi chamado à horrenda casa de vidro, uma espécie de aquário, onde os excluídos desta edição ficaram expostos, com contato com o público, que elegeu Maurício para retornar à casa. Nesse meio tempo, chegavam à casa, Wesley e Adriana. Novos BBBs. Wesley, bonitão e educado, bom de papo, paquerou ostensivamente Maria desde sua chegada. Maria mostrou brilho nos olhos que nunca se viu com Maurício. Maria paquerou Wesley, mas o fato é que nada mais aconteceu.
O retorno de Maurício à casa fez eclodir manifestações de um machismo e uma hipocrisia latentes. Em julgamento, posta como ré, Maria. Maria, a Maria Madalena do BBB. Em defesa de Maurício, o canino (em todos os sentidos) Diogo, latindo e mostrando seus dentes para Maria. Todos os homens do confinamento e fora rotularam Maurício como “corno”. Todos o colocaram como uma vítima indefesa, um bastião da dignidade e do caráter do macho brasileiro (estou quase vomitando aqui…). Maria está sendo submetida a um apedrejamento verbal e metafórico por Diogo. Os outros homens, inclusive Maurício, assistem em velada concordância.
Na casa de vidro, expostos como animais de zoológico, amando a exposição e querendo atender a todas as expectativas de populares e telespectadores, os participantes fizeram promessas de retorno heróico ao jogo. Maurício sempre declarou que Maria tinha direito de ser feliz e que não tinham um compromisso. Todavia, Maurício constatou que o povo brasileiro (homens e mulheres) é muito machista e percebeu que prestar-se ao papel de “traído que irá vingar-se” poderá dar-lhe destaque no programa. Talvez. De um programa que premiou um homem misógeno e que declarava absurdos na casa como Marcelo Dourado, não se espera mesmo um cenário de justiça e evolução de pensamento.
A ironia de tudo isso é pensar a situação contrária: Maurício ficando e Maria indo embora. A chegada de uma nova participante, toda gata e “dando mole” para Maurício… Se ele não “ficasse”… Vixi! Os gritos de “frouxo” seriam ouvidos até dentro da casa no Projac! Se “ficasse”, seria erguido nos ombros pela maioria dos que acham ser esse sempre o papel do homem-macho-garanhão. A família brasileira apoiaria. Não foi assim com as cafajestagens “carismáticas” de Alemão? Alguém acha que a reação do público seria outra?
E aí bate aquele desânimo mesmo. Preguiça que me dá frente a mentes estreitas… De ver um púbico predominantemente feminino deixando uma “samambaia” como Rodrigo na casa, até que ele “fique” com a novata Adriana. O rapaz foi Mister alguma coisa e é modelo. Só ouvi sua voz nas votações. Mas a edição mágica da Globo, extrai das cinco palavras que ele falou em dois dias, roteiro de um filme. A Globo não está errada. De olho apenas nos números da audiência, não se presta a nenhum papel que não o de vender o que uma maioria parece querer: a condenação de Maria. A santificação de Maurício. A construção de um novo ídolo (Rodrigão) para novelas e festas de debutantes.
As Marias serão condenadas, apedrejadas e com aprovação das boas famílias. Como assim uma mulher sentir desejo e viver o que quer? Como não se portou como viúva do ficante? Como não se enterrou viva junto com seu faraó morto?
Despeço-me com um trecho do dramaturgo Nelson Rodrigues: “Na hora de odiar, ou de matar, ou de morrer, ou simplesmente de pensar os homens se aglomeram. (…) A opinião unânime está a um milímetro do erro, do equívoco, da iniqüidade. (…) Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.”