Chá de X
Autor: Mafalda ~ 8 de maio de 2012. Categorias: Sofá da Mona.
Este último final de semana foi possível acessar doses generosas da saga dos mutantes e seus conflitos. A rede Telecine lançou o interessante “X-Men- Primeira Classe” e, de quebra, está reprisando outros filmes da série. Fã infantil e pré-adolescente das antigas HQs, vendidas baratinhas na velha banca de revista (essa coisa em extinção ou em atual forma híbrida junto com livrarias e cibercafes), fiquei feliz por terem tido o
cuidado de filmarem uma versão do início da série ou pelo menos da rivalidade entre Magneto e Professor Xavier. Indiretamente, o didatismo do roteiro revela as várias tonalidades de cinza que constroem as escolhas e os rumos de cada ser vivo. Embora os filmes com suas incríveis figuras mutantes ganhem plateia e lucro com a audiência teen, acho impossível um adulto (especialmente o atual, da chamada geração X) não apreciar os filmes. Foi delicioso passear no enredo do povo mutante, conhecer a origem de duas figuras poderosas em sua mitologia particular.
Os que conhecem X-Men apenas dos cinemas poderão compreender porque os fãs mais antigos eram capazes de ficar horas debatendo sobre os motivos e não-motivos de Xavier e Magneto. É bom para a plateia adulta e jovem, identificar no filme personagens que precisaram fazer escolhas boas, más, dolorosas, possíveis etc de modo coerente com a pessoa que se tornou ou com a que gostaria de ser. As escolhas nem sempre são fáceis, quando se percebe que o que as move é a paixão. Magneto pode ser visto como a paixão desenfreada, o impulso vingativo, o ódio ruminado por uma mágoa imensa (compreensível ao vermos o que ocorreu com sua mãe).
Xavier conseguiu crescer de modo mais “adaptado”, também auxiliado por uma imensa herança. A escolha de Xavier é a da ponderação. Xavier pode ensinar uma mutante a plasmar uma forma física dentro do padrão de beleza estabelecido pela sociedade (humana) atual. Certo, isso facilita de um lado a entrada dessa mutante em um mundo com crescente perseguição contra seus semelhantes. Mas a lição de auto-estima dada por Magneto (em “grande estilo”, aliás!) foi uma atitude mais honesta com a saúde mental da mutante. Xavier busca entendimento e diálogo em um mundo com várias bocas, porém com raros ouvidos dispostos à sua nobre causa. Magneto é descrente de qualquer boa vontade vinda de seres humanos… Já Xavier. Vejo analogias com o mundo atual, tão plural e que não tem apenas um lado, mas muitos, alguns inclusive divulgados pelo youtube e redes sociais, onde os vilões são apenas pessoas que fizeram escolhas diferentes, porém igualmente motivados por sua própria história (e não necessariamente a encarnação do mal).
Sou suspeita para falar. Suspiro toda vez que vejo o Wolverine de Hollywood (partindo das HQs, que upgrade generoso!) e me divirto sim vendo o filme, desencanada. Nem tudo é reflexão e densidade… Boa diversão e bom gancho para pensar um pouco além. Bom programa para criar horas de assunto entre adultos e jovens.