Ondine – Um pouco de poesia na vida
Autor: Mafalda ~ 11 de abril de 2012. Categorias: Sofá da Mona.
Em cartaz no Telecine Touch (TV a Cabo), Ondine foi uma surpresa agradável para mim. Embora eu seja munida de argumentos racionais, não consigo evitar um certo … acho que asco, ou uma certa aflição talvez, a respeito do ator Colin Farrell. Alguém sabe me explicar por que o cabelo dele parece eterna e profundamente ensebado?! Todavia, no papel de um pescador irlandês, o ator parece ter o aspecto perfeito para a personagem solitária e sofrida que interpreta. Um dia, captura uma mulher em sua rede. Uma mulher diferente, que canta em uma língua estranha e parece trazer sorte a sua pescaria em ruínas até então.
Pai de uma garotinha portadora de insuficiência renal e imaginação gigantesca, não demora muito para que a menina encontre nas fábulas celtas uma que se encaixasse perfeitamente na chegada e atitudes da forasteira. A menina é tão boa em inserir poesia para tornar sua vida possível, que nos faz questionarmos se a magia não seria mesmo viável em nossas vidas. Seria Ondine uma foca transformada? Excelente interpretação da pequena atriz Allison Berry.
O roteiro é amarradinho, não há muito espaço para erros. A economia de personagens e de excessos visuais (uma mania nesse tipo de fábula moderna) ajudam no clima de verossimilidade. A fotografia escura que atrapalha em certos momentos, foi uma escolha acertada para mostrar a falta de luz e oxigênio em que a família protagonista está mergulhada.
Ondine é uma releitura moderna de uma antiga fábula celta, sobre a transformação de focas em mulheres que poderiam visitar o ambiente terrestre e vice-e-versa, criaturas do mundo aquático. Mudar a própria pele era uma ação crítica para que pudesse permanecer na terra. Então enterrava a pele de foca, para poder ficar ao lado do pescador por quem havia se apaixonado e de acordo com as ordens dadas pela pequena Annie após pesquisar em todos os livros da modesta biblioteca local. Talvez a visão de uma criança seja a melhor para vermos a vida. A magia é uma explicação melhor que a crueza da realidade violenta, triste, injusta e sem sentido. Nunca achei que diria isso de um filme com o ensebado Colin, mas vamos lá: eu recomendo. Filme delicado e com senso de humor irlandês. Todos merecem novas chances, até nós mesmos.