Porque fazer humor e podcast é uma arte

































#@!* (Shit) My dad says


Autor: Eubalena ~ 3 de maio de 2011. Categorias: Sofá da Mona.

Sou caçula de uma típica família de classe média, que se iniciou no meio dos anos 60, cresceu e se estabeleceu nos anos 70 e 80. Assim sendo, a identificação com o filho e narrador do livro e do seriado #@!*(Shit) My dad says (na Warner, segundas, 21h) é imediata e fonte de muito da graça do livro e do seriado.

Justin Halpern tem 28 anos e está literalmente na rua. Apaixonado porém cansado de manter um namoro a distância, conquista um emprego que lhe permitiria trabalhar onde quisesse. Resolve fazer uma surpresa para a namorada e bate na porta da mesma com sua mudança que, por sua vez, nunca entrou na casa da dita namorada. Nem as tralhas e nem o pobre Justin, que tomou um fora ali mesmo na entrada.

Sem ter para onde ir, acaba indo passar uma temporada na casa dos pais: uma advogada de uma ONG e um professor universitário e médico aposentado, ex-servidor da Marinha que passa todos os dias em casa. Não há como descrever Dr. Halpern. É uma figura: desbocado, pavio curto, direto, uma mistura de médico e acadêmico culto com estivador (interpretado pelo impagável William Shatner). Dono de um modo de criar os filhos e se relacionar com o mundo que faria cair os cabelos dos modernos psicólogos e pedagogos de todo mundo.

O roteiro da série é fiel às atitudes caricatas do pai, um caminho seguro para fazer humor (nada sutil) e capta perfeitamente o clima das situações narradas no livro (Meu pai fala cada m*rda- Editora Sextante).
Da convivência próxima e involuntária entre pai e filho, um perfil no twitter foi criado pelo último apenas para dividir com amigos as frases engraçadas, o sarcasmo e a “filosofia” de seu pai. Em pouco tempo virou uma febre com milhares de seguidores, despertando o interesse das editoras. O livro se tornou best-seller nos EUA e daí para ter os direitos vendidos para produção de uma sitcom foi um pulinho.

Desafio qualquer um de minha geração (que orbita em torno dos 40) a ler o livro ou ver a série e não reconhecer o próprio pai em algum gesto, pensamento ou fala de Mr.Halpern. É engraçado e perturbador ao mesmo tempo. Parte da graça é o contraste com a educação atual de nossas crianças na era da tecnologia, da globalização e do politicamente correto. Porque embora o “método” apresentado seja radical, a integridade e o senso de justiça são marcantes nas atitudes de um pai que busca criar os filhos para a vida adulta (dura, injusta e repleta de frustrações). Sua sinceridade e transparência chocam, mas com o tempo são vistas como algo positivo até pelos próprios filhos. Porque apesar do jeitão estivador de ser, é palpável sua preocupação e o amor desse pai.

Atualmente, na ânsia de preparar os filhos para a vida, muitos pais lotam a agenda dos pequenos de inúmeros cursos e atividades: idiomas, esporte, computação, artes etc. Nada contra, mas muitas vezes percebo crianças e jovens que receberam muita informação, mas pouca formação; que tiveram pouco tempo para brincar e que frequentemente demonstram dificuldade em lidar com os “nãos” que a vida se encarrega em impor. Talvez alguns pais julguem que dar ao filho um carro seja mais importante que lhe ensinar caminhos. Sem julgamentos. Erros e acertos são o inexorável destino de quem se aventura a ter filhos. Ninguém é perfeito e tanto o livro quanto a série me remeteram a uma canção do Legião Urbana sobre pais e filhos, que dizia “Você diz que seus pais não entendem/Mas você não entende os seus pais”. Essa canção se encerra com a conclusão a qual todos os filhos um dia chegarão sobre seus pais: “são crianças como você”.

Apesar de revirar a internet, não descolei nenhum trecho legendado. Escolhi portanto um de entendimento mais fácil sobre o conceito de “trabalho” do velho Halpern.


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